terça-feira, 22 de março de 2011


                                                        







                                                          




                                                            LANGOR
                                                                        Rita Santana



Há sol demais na paisagem.
Moinhos de vento
Atormentam meu dia.
O casario recolheu o rutilar
Da minha vontade,
E eu, à sombra, deitei minha vocação
De campesina.

Minha boca pede água,
Somente meus pés pedem língua.
Tenho cansaço nas veias
De tanto deixar tecidos
Soltos no caminho.

Pescoço dança violoncelo,
Cintura requebra em violinos,
O meu vagar já é tão certo
Quanto a infelicidade dos dezembros.

Vem! Rega meu baixo ventre
Com aquilo que, em ti, é abundância.
Mas não venhas com esperas!
Estou mole, mole.
Quero abrir-me as pernas ao vento.





 Foto: Edgard Navarro/Maranhão
Poema do livro Tratado das Veias

2 comentários:

  1. Passando rápido. Não o li o conto novo, deixei pra depois. Vim neste poema, mais curto, do tamanho da minha pressa. E valeu, valeu muito. Botei até uns peixes no meu samburá:

    "Minha boca pede água,
    Somente meus pés pedem língua.
    Tenho cansaço nas veias
    De tanto deixar tecidos
    Soltos no caminho."

    Vão render uma moqueca especial!

    Beijos

    ResponderExcluir
  2. Obrigada, Tuca! Eu acho esse poema tão mole, tão leve, tão nada e gosto dessa natureza. Boa moqueca. O seu blog me faz rir: acho esse poder genial.

    ResponderExcluir