quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

                                    

                                    CIÚME

                                                             Rita Santana



As imagens frequentam o meu palácio,
Ganham janelas e cômodas, visitam gavetas.
Masco o meu ciúme sem defesas, sem gravetos secos,
Sem dedos em riste.
Só, eu e o meu palpite de fada negra.
Nas charnecas, deito o meu idílio de dama cansada.

Arreio a ira, a febre de crime passional,
Arreio minhas ancas duras de mulher que tem querer,
Arreio meus seios moles de vaca parida,
Penso protestos feministas com camas nas calçadas.
Que nada!
Tudo são dunas de mulher perecedora,
Vento carrega e a alvenaria se faz noutro lugar.
Cozo abóboras amarelas inteiras,
Preparo recheio de confissões de dengo,
E arrumo o quintal pra festa.

O que me resta é entrar na roda e tergiversar
Ou só versar, tocar minha lira,
E virar Safo de mármore na praça de Ilhéus,
Minha Lesbos abandonada.
Gritos, gemidos de gozo mudo, orgasmos de madalenas,
Poemas inteiros dedicados ao Farol, ao Raio.
Deixo meu afeto ao Sol e viro grama.










Foto: Henrique Andrade
Modelo: Rita Santana 
Poema do livro Tratado das Veias





2 comentários:

  1. meu ciúme é azul
    como um mar sem fim, sem fundo:
    leve vento sul...

    ...
    foi essa a forma de dizer o que teu poema me fez sentir e pensar...

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  2. Obrigada pela visita, meu querido amigo. O poema que você fez é um diálogo com o meu ciúme, com Sapho e Adélia e vamos tecendo a manhã com esses fios, fios, fios ..... João Cabral e o desenrolar do discurso e Aleilton falando disso pra gente em Ilhéus.

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