quarta-feira, 24 de abril de 2013

Pedra Só: José Inácio Vieira de Melo

 
 
 
 
 
José Inácio Vieira de Melo
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Escrituras Editora, de São Paulo, acaba de publicar Pedra Só, o novo livro do poeta alagoano da Bahia José Inácio Vieira de Melo.

Sexto livro de JIVM, Pedra Só é o seu trabalho mais autobiográfico. No capítulo de abertura, que nomeia o livro, traz um longo poema dividido em 27 partes, revestido de tons épicos e flertando com a linguagem bíblica. Pedra Só é o nome de uma fazenda onde o poeta tem o privilégio de passar uma parte de seu tempo. Então, na Fazenda Pedra Só, no Sertão da Bahia, o poeta inventou um entrelugar, com o mesmo nome da propriedade, para dar evasão aos seus delírios poéticos. E é a partir da Pedra Só que frequenta os lugares mais recônditos e inóspitos da sua memória, buscando o barro fundamental – a poesia primeva – para fazer a ligação do seu ser com a arte e criar seus poemas.

O primeiro capítulo, “Pedra Só”, faz um movimento de retorno às origens sertânicas do poeta com uma intensidade que até então não havia experimentado em sua obra, e é assim também no segundo capítulo, intitulado “Aboio Livre”. A terceira seção é a “Toada do Tempo”, em que usa com mais frequência o verso medido e que situa o poeta dentro do tempo, medindo sua finitude e, paradoxalmente, fazendo-o perceber-se atemporal. A quarta seção, chamada “Partituras”, é onde aparecem as cantigas e os cânticos de louvor. E, por derradeiro, o capítulo “Parábolas”, em que acentua o surrealismo, criando uma esfera fantástica impregnada de misticismo.

Pedra Só tem um primoroso projeto gráfico e conta com imagens do fotógrafo mineiro Ricardo Prado, feitas na Fazenda Pedra Só, e com um perfil do autor assinado pelo jornalista Gabriel Gomes, intitulado “O Poeta e a Pedra. Só”. O texto das orelhas é do poeta Vitor Nascimento Sá, no qual alerta o leitor: “A poesia de José Inácio Vieira de Melo não se estabelece no convencimento racional nem nas prerrogativas de cunho moral, mas na percepção do maravilhoso que é produzido como êxtase e fulguração, descoberta e alumbramento”.

A contracapa traz texto do renomado escritor português Gonçalo M. Tavares, que assim definiu o novo trabalho de JIVM: “E aqui temos a forte síntese: o solo firme e a imaginação – uma das características essenciais desta Pedra Só de José Inácio Vieira de Melo”. No posfácio, além do perfil feito por Gabriel Gomes, há um poema telúrico/metafísico de Elizeu Moreira Paranaguá em homenagem ao Cavaleiro da Pedra Só.











José Inácio Vieira de Melo (1968), alagoano radicado na Bahia, é poeta, jornalista e produtor cultural. Publicou os livros Códigos do silêncio (Salvador: Letras da Bahia, 2000), Decifração de abismos (Salvador: Aboio Livre Edições, 2002), A terceira romaria (Salvador: Aboio Livre Edições, 2005) – Prêmio Capital Nacional de Literatura 2005, de Aracaju, Sergipe, A infância do Centauro (São Paulo: Escrituras Editora, 2007), Roseiral (São Paulo: Escrituras Editora, 2010) e a antologia 50 poemas escolhidos pelo autor (Rio de Janeiro: Edições Galo Branco, 2011).

Organizou Concerto lírico a quinze vozes – Uma coletânea de novos poetas da Bahia (Salvador: Aboio Livre Edições, 2004), Sangue Novo – 21 poetas baianos do século XXI (São Paulo: Escrituras Editora, 2011) e as agendas Retratos Poéticos do Brasil 2010 (São Paulo: Escrituras Editora, 2009) e Retratos Poéticos do Brasil 2013 (São Paulo: Escrituras Editora, 2012).

Publicou também o livrete Luzeiro (Salvador: Aboio Livre Edições, 2003) e o CD de poemas A casa dos meus quarenta anos (Salvador: Aboio Livre Edições, 2008). Participa das antologias Pórtico Antologia Poética I (Salvador: Pórtico Edições, 2003), Sete Cantares de Amigos (Salvador: Edições Arpoador, 2003) e Roteiro da poesia brasileira – Anos 2000 (São Paulo: Global, 2009). No exterior, participa das antologias Voix croisées: Brésil-France (Marselha: Autre Sud, 2006), Impressioni d’Italia – Piccola antologia di poesia in portoghese con traduzione a fronte (Napoli: U.N.O., 2011) e En la otra orilla del silencio – Antologia de poetas brasileños contemporáneos (Cidade do México: Unam / Ediciones Libera, 2012).

Coordenador e curador de vários eventos literários, como o Porto da Poesia, na VII Bienal do Livro da Bahia (2005), a Praça de Cordel e Poesia, na 9ª e na 10ª Bienal do Livro da Bahia (2009, 2011) e o Cabaré Literário, na I Feira do Literária Ler Amado, em Ilhéus (2012), assim como os projetos A Voz do Poeta (2001) e Poesia na Boca da Noite (2004 a 2007), ambos em Salvador. Atualmente é curador dos projetos Uma Prosa Sobre Versos, em Maracás, e Palavra de Poeta, em Planaltino.

Tem poemas traduzidos para os seguintes idiomas: espanhol, francês, italiano, inglês e finlandês. Foi coeditor da revista de arte, crítica e literatura Iararana, de 2004 a 2008. Edita o blog Cavaleiro de Fogo: www.jivmcavaleirodefogo.blogspot.com












QUATRO POEMAS DO LIVRO

 PEDRA SÓ






Boca da noite

 

A voz, na boca da noite,

trabalha na solidão

e abriga as formas do dizer.



Na boca da noite, a voz

incendeia o silêncio de Ulisses,

onde dormem as águas do ser.







Cantiga para Mariana


 
Sou teu irmão.

Da nossa raiz

nasceram todos os poetas.



Sou o que passa as noites

contemplando a beleza do Universo

no firmamento da menina dos teus olhos.



Sou teu irmão.

O que semeou em teu ventre

as sementes que esperaram milênios

para serem salmos.



O pastor em vigília,

que apascenta tua verônica

e suspira estrelas.



Sou teu irmão.

Sigo apenas os preceitos sagrados:

é em nós que o amor cresce

e se multiplica.







A pupila de Narciso

 

Vestido com a graça da Lua,

um cisne no lago do espaço.



Padece o poeta aos pedaços

no espelho límpido das águas.



Narciso que cintila perdido,

buscando no rosto uma casta.



Até que na espuma dos tempos

salva a legião de afogados.







Eleutheria


´

Os poetas são santos do vento

que atiçam as brasas

do meu coração de criança.



Os poetas são bichos no escuro.

Trazem a vertigem nos pés

e um candeeiro nas mãos

para ofuscar os demônios.



No silêncio lento de junho

um brusco redemoinho

faísca minhas retinas,

pérolas acesas das cacimbas.



E de minha boca jorra

o vinho das palavras,

sombra e unidade do homem.
 




Fotos: Ricardo Prado

2 comentários:

  1. Ria, gostei muito dos poemas de José Inácio. Tanto, que vou "pescar" um deles para colocar no 'minimo ajuste', posso?

    beijossss

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  2. Cirandeira, você é quem manda nessas Barcaças. Gostou, leve, espalhe, revele, universalize! Se quiser outras tantas, estou aqui para dar contato, telefone, endereço e o que mais desejar! A alegria é pela poesia, pelos talentos que temos! Beijos! Ele está no face como José Inácio Vieira de Melo / email:jivm.inacio@gmail.com

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