Neuzamaria Kerner
Não joguei fora o meu batom
Não rasguei as minhas saias.
Não rasguei as minhas saias.
Não aceitei os rótulos ridículos
Com os quais quiseram me enfraquecer.
Não rejeitei minha porção gueixa
E nem fiz queixa a ninguém
Do quanto doeu redefinir minha identidade
Que por infidelidade a mim mesma
quase perdi.
Retomei o meu nome
O meu batom
As minhas saias.
Hoje
Ouso remendar os cacos
Do que as gerações anteriores
Quebraram sobre mim.
MADALENA
Do poço de Jacó
no meu cântaro-corpo
em vez de bálsamo trago a líquida imagem
dos quereres do mundo.
Na sexta hora do dia
hora ausente das sombras
havidas em Samaria
pressinto tuas pisadas caminhantes
sobre os meus desejos.
Do meu vaso de alabastro
deixo verter lágrimas de cheiro
deixo verter águas de água
para alívio das minhas sedes
desapaziguadas
na espera do teu olhar.
Passas.
Tu queres ir, mas tuas vestes se grudam
na primeira pedra
e o teu manto senta sobre mim.
Dou-te de beber
molho teus pés
e seco-os com cabelos-véus.
Toco-te...
sentes minhas mãos sábias e generosas...
Estremeces
e sinto que transbordas comigo.
Mais veloz, porém, que um raio do céu
me afastas prevendo
o perigo impresso no momento.
Dá-me de beber, pregador!
- suplico –
e derramas a eternidade na minha boca.
Seguimos juntos
atemporalmente
e as pedras vão ficando para trás
leves e desarremessadas
para todo o sempre.
Neuzamaria Kerner (este poema é do LIVROARBÍTRIO DAS EVAS, que ainda espera a minha disposição para publicar)
Amar é a única alternativa!
poemas maravilhosos, o feminino à tona.
ResponderExcluirbeijos