Mônica Menezes
Poema para os olhos de minha mãe
minha avó materna não deixou fotografia
morreu de parto
numa manhã de inverno
aos trinta e dois anos de idade
em sua própria cama
deixando seis órfãos, um marido devastado
e uma casa para sempre vazia
dizem que era bela
com seus cabelos negros
e o olhar azul profundo
a espiar o tempo
minha avó materna era judia
como a sua mãe, a mãe de sua mãe
a mãe da mãe de sua mãe
e a sua filha
como a filha de sua filha
e a filha da filha de sua filha
dizem que era forte
com seu corpo esguio
atravessando os vales
a desafiar a sina
minha avó materna não nos legou seu sobrenome hebreu
pois o perdera antes mesmo de nascer
também jamais lhe escutaram pronunciar a língua
nenhuma carta, nenhuma joia, nenhum caderno de receitas
nenhuma velha Torá no fundo falso de um baú
nenhuma fotografia
somente sua ausência
seu sangue antigo em nossas veias
e uma dor quieta
e infinita
nos olhos ternos de minha mãe
Foto: Sarah Fernandes (Filha de Mônica e que está ao seu lado na foto)
Obrigada, Rita, querida. Pelo carinho, pelo respeito. Sobre a foto: somos eu e Sarah, minha filha. Foi ela, Sarah, quem fez, numa tarde de verão, em Amargosa-Ba. Bjs, Mônica
ResponderExcluirBelíssimo poema! Sou admiradora da poesia de Mônica. E linda essa foto com Sarah. Bjs
ResponderExcluirLindo poema, poeta Monica...
ResponderExcluirLélia
UFG/Goiânia