CLEBERTON
SANTOS
CALÇADA RIBEIRINHA
para Helena
Queria sentar nesta calçada antiga
repousar meus gritos e teoremas
jogar castanhas no buraco d’água.
Queria sentar nesta calçada antiga
sem a pressa dos vendavais urbanos
contar estrelas em esteiras amarelas.
Queria sentar nesta calçada antiga
sem a poesia que me atormenta
sentir a lua fria sobre as pernas.
Queria sentar nesta calçada antiga
e ver surgir do batente liso
a velha sombra da manhã vivida.
RIOS, Dermival (org.). O valor da razão. Jequié: Academia de Letras de Jequié, 2008. p. 143
Madrugada qualquer
ao poema de Antonio Brasileiro
A fumaça que foge
pelas chaminés da padaria
perfuma o telhado das casas que dormem.
A solidão, companheira dos meus olhos,
caminha no meio da multidão de sombras e postes.
No passo dessas ruas reconheço meu drama,
componho minhas tramas, sinto meus poemas.
E recito em voz baixa, surdamente baixa,
os mistérios de um tempo sem rancores.
Revelações de um homem sem palavras,
perfumado de sensações.
Na praça o sono. O sono calmo dos que não sonham.
No meio da noite
gatos e guardas, ao som de apitos violinados,
tecem a música de uma madrugada qualquer.
Publicado no jornal Tribuna Feirense, caderno Tribuna Cultural, 22/09/2002.
INFÂNCIA
para Zuleide
No umbigo do mundo
escondi meu cavalo de barro.
No umbigo do mundo
escondi minha bola de gude.
No umbigo do mundo
a criança escondida
brinca de se esconder
do outro lado das coisas
vestindo palavras espumas.
Publicado na Antologia do 15º Concurso Nacional de Poesia “Helena Kolody”, editada pelo Governo do Paraná, 2005.
CANTO
para Reynaldo Valinho Alvarez
A vida avança neste rio sem norte
e a sorte busca cada canto escuro
para dar morte a todo pássaro
que canta seu canto de esperança e medo.
A vida avança sem norte neste rio
e o canto escuro dos dementes
a todo pássaro cativo liberta
da morte do canto medroso e doente.
Publicado na Revista Poesia Sempre, Nº 27, Ano 14. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2007. p. 151-153, ISSN 0104-0626
Fotos 1 e 2: Ricardo Prado
Foto 3: Rosana Rios
Foto 3: Rosana Rios
CLEBERTON SANTOS
Os textos de Cleberton, suaves, reflexivos da Calçada Ribeirinha me conduziu a simplicidade das calçadas e das brincadeiras de infância.
ResponderExcluirSempre é bom relembrar, pensar, comparar os tempos.