domingo, 28 de abril de 2013

A Poesia de Cleberton Santos

 
       

 
 
      


CLEBERTON
SANTOS


 



 
 

 
 
 
 
 
 
 
CALÇADA RIBEIRINHA
para Helena

 


Queria sentar nesta calçada antiga
 
repousar meus gritos e teoremas 
                                   
jogar castanhas no buraco d’água.
 
 
 
 
Queria sentar nesta calçada antiga
 
sem a pressa dos vendavais urbanos
 
contar estrelas em esteiras amarelas.
 
 
 
Queria sentar nesta calçada antiga
 
sem a poesia que me atormenta
 
sentir a lua fria sobre as pernas.
 
 
 
Queria sentar nesta calçada antiga
 
e ver surgir do batente liso
 
a velha sombra da manhã vivida.
 
 
RIOS, Dermival (org.). O valor da razão. Jequié: Academia de Letras de Jequié, 2008. p. 143
 
 
 
 
 
 
 




 
 
 
 
 
 
 
Madrugada qualquer
 ao poema de Antonio Brasileiro
 
 
 
 
 
A fumaça que foge 
 
pelas chaminés da padaria
 
perfuma o telhado das casas que dormem.
 
 
 
A solidão, companheira dos meus olhos,
 
caminha no meio da multidão de sombras e postes.
 
No passo dessas ruas reconheço meu drama,
 
componho minhas tramas, sinto meus poemas.
 
E recito em voz baixa, surdamente baixa,
 
os mistérios de um tempo sem rancores.
 
 
 
 
Revelações de um homem sem palavras, 
 
perfumado de sensações.
 
 
Na praça o sono. O sono calmo dos que não sonham.
 
No meio da noite
 
gatos e guardas, ao som de apitos violinados,
 
tecem a música de uma madrugada qualquer.
 
 
Publicado no jornal Tribuna Feirense, caderno Tribuna Cultural, 22/09/2002.
 
 
 
 
 
 
 
 





 
 
 
 
 
 
 
 
 
INFÂNCIA
para Zuleide
 
 
 
 
No umbigo do mundo
 
escondi meu cavalo de barro.
 
 
 
No umbigo do mundo
 
escondi minha bola de gude.
 
 
No umbigo do mundo
 
a criança escondida
 
brinca de se esconder
 
do outro lado das coisas
 
vestindo palavras espumas.
 
 
 
Publicado na Antologia do 15º Concurso Nacional de Poesia “Helena Kolody”, editada pelo Governo do Paraná, 2005.
 
 
 
 
 
 
 




CANTO
 
para Reynaldo Valinho Alvarez
 
 
 
 
 
A vida avança neste rio sem norte
 
e a sorte busca cada canto escuro
 
para dar morte a todo pássaro
 
que canta seu canto de esperança e medo.
 
 
 
 
A vida avança sem norte neste rio
 
e o canto escuro dos dementes
 
a todo pássaro cativo liberta
 
da morte do canto medroso e doente.
 
 
Publicado na Revista Poesia Sempre, Nº 27, Ano 14. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2007. p. 151-153, ISSN 0104-0626
 
 
Fotos 1 e 2: Ricardo Prado
Foto 3: Rosana Rios

 
 

Um comentário:

  1. Os textos de Cleberton, suaves, reflexivos da Calçada Ribeirinha me conduziu a simplicidade das calçadas e das brincadeiras de infância.

    Sempre é bom relembrar, pensar, comparar os tempos.

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