sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Jardim das Folhas Sagradas: textos de Jorge Portugal e Jaime Sodré











 por Jorge Portugal
De Salvador (BA)


          Deve estrear em breve o filme “Jardim das Folhas Sagradas”, do cineasta baiano Pola Ribeiro.Em sessão especial para a imprensa local, pude vê-lo e saí vivamente encantado por muitos aspectos que não encontro no cinema que se faz atualmente no país.

           Para os olhares mais apressados, o “Jardim” pode parecer apenas um filme feito sobre o Candomblé, seus rituais, mistérios e até polaridades internas. Mas eu lhe peço, desde já, que se desarme de qualquer preconceito (se é outro o seu credo) e dirija ao filme o olhar humano e inteligente que merece toda grande obra de arte. Não há dúvida de que o povo negro da Bahia e sua cultura religiosa ocupam a centralidade da trama que, no entanto, traz outros temas que pontilham nosso debate contemporâneo e dizem respeito ao tipo de organização social que queremos e à sustentabilidade do planeta em que moramos: a intolerância religiosa, o racismo e a relação profunda entre religião e natureza permeiam a história, disfarçados de tramas secundárias, mas, apenas, “disfarçados”.

          O “Jardim das Folhas Sagradas” é filme para encher os olhos. Se Pola Ribeiro apenas fixasse a câmera na direção de todos os desdobramentos de um ritual de matriz africana, já teria “cinema transcendental” para oferecer ao nosso olhar. As danças, o colorido de pessoas e roupas, a beleza natural dos cenários e cenas, uma cultura viva no seu momento sagrado, por si sós já fariam a grandeza de um documentário imperdível. Mas Pola conta-nos muitas histórias, dentro de uma história maior, que informa e encanta.

           Saí da sessão com a sensação de que, guardadas as proporções, O Jardim das Folhas Sagradas revela uma “coragem de autor” semelhante à “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Gláuber Rocha. Ambos desvelam um Brasil, se não desconhecido da maioria, com certeza olvidado pelos que se escusam a reconhecer e assumir sua profunda identidade cultural.

          E em tempos de “Tea Party”, “Frente Nacional Francesa”, “Liga Norte”, “Islamofobia”, prática explícita de intolerância religiosa e racial no Brasil, nada melhor do que afirmarmos a pluralidade de nossas origens e, dentre elas, aquela que ficou escanteada por séculos, na tela da TV, na universidade, no cinema e na consciência nacional. A matriz-mãe de nossa diversidade.

          O Jardim das Folhas Sagradas é narrativa que prende o olhar do primeiro ao último minuto; é cine-poesia da mais alta beleza e dignidade. Longe do superficialismo dos blockbusters estrangeiros e das comédias-Globo Filmes, comunica-nos um Brasil negro e profundo que, no final das contas, somos nós mesmos.

Jorge Portugal é educador, poeta e apresentador de TV. Idealizou e apresenta o programa “Tô Sabendo”, da TV Brasil.
Fale com Jorge Portugal: jorgeportugal@terra.com.br
ou siga @jorgeportugal1 no Twitter.

Site oficial do filme
 http://www.jardimdasfolhassagradas.com.br/2011/imp_fotos/index_3.htm


Ver artigo de Jaime Sodré sobre o filme:

http://www.jardimdasfolhassagradas.com/2011/Jornal_A_Tarde.Opiniao.A2.11.08.11.pdf


2 comentários:

  1. Ritinha,
    é capaz de eu eu aí só pra ver o JARDINS DAS FOLHAS SAGRADAS com você dentro dele, se movendo feito uma entidade vestida de cores e luz.
    Bom ver a sua foto ao lado so Sérgio. Bom ver tão perto, bem aqui na minha frente, mas sem poder abraçar, bem apertado, essa pessoa linda e querida.
    O título do filme já é altamente sedutor, já chego a sentir os cheiros todos e me lembra o sítio do nosso amado Ruy Póvoas. Lá o sagrado imperava e a gente sentia e ia modificando a gente por dentro,isso desde o momento que começávamos a subir a ladeira.
    Assim fico imaginando o cenário do JARDIM DAS FOLHAS SAGRADAS... E você lá sacralizando mais o que já nasceu ungido.

    Axé!

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  2. Neuza, esqueci de publicar o calendário! Pronto, já está aqui! Vitória verá o filme logo, portanto, não será preciso viajar, mas se vier, ficarei feliz. Estou com saudades. Confira a data e não perca. A minha personagem é pequena, apesar de ser profundamente amada por mim e de ter me dado uma alegria imensa. Grande é o significado do filme para a cultura baiana, para o Candomblé e os atores negros da Bahia.

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