quarta-feira, 27 de abril de 2011







DESCONFIANÇA 
Rita Santana



Tenho desconfiança daquele que me ama.
Acho amor ato nobre, legado a poucos,
Tarefa de dignos,
Algo assim, de difícil acesso.
Desconfio de quem dorme ao meu lado todos os dias,
Daquele que sabe meus ares fétidos, minha languidez,
Daquele que colhe o melhor das minhas magias
De maga cansada de ser,
Daquele que sabe todas as influências malditas do meu signo.
Cansei-me de esperas vãs
Mas ainda rogo milagres de reconhecimento.
Não quero envelhecer de vez as carnes,
Nem perecer quieta num canto isolado da minha ilha.
O meu namorado às vezes é cego; noutras, sagaz.
E eu, mulher, tentada a maldizê-lo sempre,
Tamanho é o meu querer,
Precipito-me em despenhadeiros em busca de água fria,
Pois que fervo lavas,
Pois que de labaredas dramáticas tenho feito existência.
Fujo ao controle dos urubus, das vespas.
O meu voo é incompleto e pressuroso, atabalhoado.
Desconfiança tenho dos honestos demais,
E das santas, dos castos, dos bondosos.
Desconfio daquela, diante dos meus olhos, ao espelho,
Dos seus intentos de artista, das suas vísceras dilaceradas,
Do seu talento incapaz de erguer-se em fala,
Daquela mulher furtiva, incapaz de dizer-me caminhos,
Enquanto desodoro as axilas, ajeito o cabelo,
Desamasso a roupa e miro em mim cumplicidade.






2 comentários:

  1. Vim te visitar e que surpresa encantadora,
    vc escreve lindo Rita.
    "Precipito-me em despenhadeiros em busca de água fria,
    Pois que fervo lavas,
    Pois que de labaredas dramáticas tenho feito existência."
    estou seguidora vou te compartilhar no Fbook. beijão

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