terça-feira, 19 de abril de 2011












A Praia
Rita Santana



Os passos ficam na areia,
E eu, transitória, passo.
Transito dispersa, alheia,
Cansei-me, meu ser é lasso.
Lancei minha rede ao mar,
E ela rasgou-se na âncora.
Do rasgo que a sede dá,
O mar não enche uma ânfora.
Quero morar numa concha,
Sem sustos de imensidade.
Na juventude, quis tudo!
O mundo deu-me a saudade.
Pequena, diante das águas,
Eu penso no quanto sou triste.
Eu trago trouxa de mágoas,
Meu sonho não mais existe.
Aqui, à beira do mar,
Recordo a mulher que fui:
Doei-me ao Amor e ao Amar,
Perdi o esplendor e a luz.



 Foto: Edgard Navarro

2 comentários:

  1. Comi o poema inteiro numa garfada, Rita. Sem mastigar, me babando todo. Só regurgitei um pouquinho...

    "Do rasgo que a sede dá,
    O mar não enche uma ânfora."

    ...pra mascar feito chiclete, antes de dormir e durante o sonho.

    Beijos

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  2. Fernando Pessoa de saias. Você é 'a' cara, Rita. Beijo na sua alma iluminada. Moisés.

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