terça-feira, 1 de fevereiro de 2011



 



Estou sem fé em mim mesma.

As bocas estampam manchetes de resistência.

                                                            Rita Santana



Há barulho de água escorrendo de outras janelas
E a solidão envelhece o meu querer tão grande
Anoto em panfletos de perfumes o seu nome
Modo de simpatia e afinidades com o povo
E suas crenças em ciganas
Que ofertam pulseiras
E dentes vazios
Moro entre feirantes e mijo noturno de vigias
Vejo o mar no meu rumo
Lembro de noites com brindes e casas abandonadas

Mortes me acompanham, enquanto helicópteros
Sobrevoam pontes e naufragam no trânsito da capital
Livros e o próprio Louvre se embaralham na pequena estante
Decidi ser grande como os demais
Juntar dinheiro para casa, carro, roupas...
Outro dia lembrei-me de beijos, asfaltos
E uma lua cheia
O efeito da voz amada que atravessa distâncias
E ainda assim, traz impaciências e volumes de mesmices
E acontecimentos de folhetins

Um navio vermelho invade o meu quarto
E penetra em minha emoção porque todo Navio
É um rio de desejos escorrendo pelo corredor do edifício
Banhando passageiros e aveludados transeuntes.








Foto: Rita Santana

4 comentários:

  1. ô, mulher, que solidão envelhecendo, há quantos milênios, esse querer tão grande!
    Não há simpatia ou morte, não há livro que relate a saga desse Navio Vermelho, Rita.
    E você com seu rio de poesia aveludando as pedras. Que seja bendita, querida Rita!

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  2. Ah como é bom viajar na poesia de Rita!

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  3. Como sempre, a poeta-menina-mulher reveste de uma mágica sensorial o verso que se escoa pelas entranhas das veias...pulso que pulsa um rio-corrente por dentro de si.
    É realmente muito bom percorrer este leito corrente do seu rio de palavras...
    Beijos.
    Genny

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  4. os rios escorrendo das janelas, na sua solidão repleta de desejos...as promessas de felicidade,
    e a distância, mais e mais, levando embora a lua cheia, a voz amada, as possibilidades de colo, de alimento...
    querida Rita!

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