Andorinha
Rita Santana
As andorinhas existem!
Saíram das páginas do livro
E resolveram viver
Nas alvenarias
Do invisível.
Mas a tua ausência dentro de mim é puríssima dor.
Não há voo que dissipe minha esperança.
Nem vento, nem rosa, nem crença
Que suavize a melancolia parasita nos ossos.
Alheios desejos nos levaram
Para ilhas opostas:
Tu foste para Creta.
Eu, para o Crato.
E do anonimato dos dias
Tenho feito poesia secreta
E prosadura.
Crepúsculo das Vertigens
Rita Santana
Ante o teu olhar de céu marítimo,
Cedo oferendas ao teu cinismo-seco.
Crepusculo raízes de verdades verdes,
E ainda assim, quero-te meu!
Apaixonado e obscuro-louco,
Encantador das minhas servas serpentes.
Mente quem olha em silêncio
Tua brandura!
És ofertado a escândalos de botequins.
Tens no nome um Império de mangues,
E no meu lodo escavas pepitas,
Pratarias de negra apanhada
Em arrecifes de ciúmes.
Vingo-me perante o ópio epiderme de teus olhos
E morro a cada romper de casco sobre pedras.
Diário da Separação
Rita Santana
Ele vai e volta!
Cada vez mais perdulário dos meus perdões.
Cada vez mais disposto a cobrir de velários
Meus velórios matutinos.
Ele chega menino e se vai vilão,
Zorro assombrando minhas carnes.
Mostra-se quase factível de mudanças,
Mostra-se quase afeito aos meus caprichos de fêmea.
Inferniza minhas ínguas, lambe minha pelve:
– Perverso!
Deposita escarros nos vasos da minha Casa.
E vai-se, Tarzan depois da gripe.
Enredado em seus cipós,
Distante do chão-pergaminho
Das minhas Vertentes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário