domingo, 21 de novembro de 2010

Poema do Tratado das Veias





DONA ESTER FERREIRA
(Rita Santana)


Havia fifós espalhados pelo corredor,
Caquinha doida com tarefas da lembrança,
Romana cega a fazer remendos em trastes de uso,
Janelas de quartos escuros,
Cheiro de cacau grudado nos tijolos,
E a minha bisavó indiferente aos meus olhos.
Sem saber que seria a personagem mais forte
Do meu imaginário.
Adultério no sangue das grandes mulheres da família,
Demência nas mulheres susceptíveis à dor,
Nos homens deformados, de galhos pobres.
Domina - senhora minha!
Dora Doralina, desde sempre em mim:
Compra fazendas estampadas para corpo alto,
Pega nas bingas dos netos abobalhados,
Sorri da desgraça dos que virão,
Adoece de imagens, adoece de muitas imagens,
Adoece da voz de Manuel Severino,
Amando, de machezas e ternuras,
Uma mulher sem domínios, sem selas,
De largura fidalga nas ancas.
Dada ao seu destino feito prenda de conquista de terras.
Ninguém viu Dona Ester
Tomando cachaça de rabo-de-galo
No bar de Júlio Caranha, marido de dona Jorgilina.
Este é o meu quintal,
Minha cancela aberta,
Árvore arraigada na minha história,
Com sementes que trago nas minhas mãos fechadas.




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