CORAÇÃO DE ARDÊNCIAS
Rita Santana
Meu coração era um mosaico de ardências.
As palavras latiam, viravam latas,
Lambiam, com apetite, requintes de sonhos.
Eu dilatava toda num parto insone,
Sem provas, sem sequelas, sem dinamites.
Havia sol no meu verso e eu dançava,
Aflita de vida, mimada de afetos desejados.
Eu tinha um cajado nas mãos e levantava-o aos céus,
Rogando pragas ao Criador
Por ter-me lançado ao mundo, em movimento.
Havia muita dor em meu delírio,
E o campo perdia o verde quando a minha brasa passava.
Seguia o meu farol perdido lá no fim,
Seguia o meu faro, o meu calo,
Seguia uma menina bonita de tantos nadas.
O amor iluminou a parede do meu quarto,
Brincou de pisca-pisca - e nem era natal!
Alguma coisa acontecia no dia-a-dia da casa.
Uma fumaça esguia manchou paredes
E eu chorei calada.
Assoviei uns versos sumidos, miúdos,
No aparente sequestro dos meus dias.
E, ainda que tarde, disse:
-Vem! Vem atordoado, imberbe, beijar-me até o amanhecer,
Cair cansado em fadiga de neblina escassa,
Vem e provoca-me versos,
Embriaga-me de farras em teus braços de nunca mais,
E depois chega mais, arrisca mais.
Ardo! Ardo como asfalto nos verões do Rio.
Ardo porque sou mulher.
E sorrio fresca, como que ardendo, como que queimando.
Ardo porque enfarto a toda hora,
Sem u-tê-ís, sem confessionário.
Ardo porque, de ordinário, sou flama.
vou ficar aqui, a assoviar uns versos sumidos, miúdos, a enfartar a toda hora, atordoado, imberbe, sendo beijado em chamas até amanhecer-me em meus braços de nunca mais!
ResponderExcluirbeijo
É bonito ouvir você falando os versos assim, Wilden, Poeta! Dá a impressão de que o nosso trabalho ecoa, brilha em almas. Estava com saudades de você, beijos!
ResponderExcluirEsse paredão da Chapada com essas pedras prenhes de calores acumulados(belíssimo!), ilustram tão bem esse "ardo porque sou mulher...", em toda a sua plenitude!
ResponderExcluirE de ordinário, és mesmo mulher-POETA!!!
grande beijo
E esse coração de pedra, Cirandeira? O que fazer com esse coração esculpido pela natureza? Beijos, querida.
ResponderExcluirAs pedras enganam muito. Elas são o resultado de
ResponderExcluirpequeninos grãos de areia e pó que o vento vai
acumulando ao longo da vida sob a ação da água das chuvas, dos rios e mares.Durante todo o tempo vão acunulando muitos resíduos de várias espécies(bons e ruins)e servem muitas vezes de abrigo, de proteção e defesa. A Natureza é sempre muito sábia: "água mole em pedra dura..."
beijão, querida
Rita,
ResponderExcluirÈ muito bom passar por aqui e te admirar pelas palavras ditas em poesia por vc.
Grande beijo, querida.
L U I Z
Encantado Rita como um poeta imberbe vendo seu primeiro poema bonito.
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